sexta-feira, 20 de abril de 2012

CARTA DE UM JOVEM GUINEENSE DESESPERADO

Bissau está triste. A Guiné, a nossa Guiné vive de novo, dias de tormento. Dias de kasabi. Não há panos di pinti estendidos para os malfeitores armados que trazem o sofrimento que inunda esta terra que um dia será NAÇÃO. Não há alegria nem motivos de orgulho. A esperança escapa-se-nos entre os dedos das mãos. O toque do bombolom foi mais uma vez substituído pelo deflagrar das armas, pela força da violência. Nós os jovens somos os porta-vozes dos nossos GARANDIS, mas não nos deixam dizer o que nos vai na alma. O nosso descontentamento é enorme. Passamos as noites em claro, sem dormir. Eles controlam tudo e todos, bairro a bairro, casa a casa. Mandam recados, intimidam os quadros… ninguém escapa á fúria. Professores, jornalistas, funcionários públicos, até militares que não alinharam com mais esta aventura, são objectos de intimidação. Vivemos num autêntico estado de sítio.

Numa manifestação autorizada os jovens foram brutalmente atacados por militares em frente ao Palácio do Parlamento (ANP) e viram as suas pernas perfuradas pela ponta de baionetas, barrigas laminadas. E qual foi o crime dessas centenas de jovens? Só queriam repudiar o golpe de estado. Dizer BASTA! Estamos a sofrer no corpo e na alma. Tanta dor meus irmãos. Tanta mágoa. São lágrimas de sofrimento que cobrem as faces das nossas mães, das nossas irmãs, das mulheres da nossa terra sofredora e de todo um povo trabalhador e hospitaleiro.
As populações saturadas da agenda cíclica militar e de alguns políticos já sobejamente conhecidos pelo seu oportunismo, primeiro optaram por permanecer nos seus bairros, nas suas casas por força das armas, mas acabam mais uma vez a fugir dos seus ditos defensores. É que o sossego, o silêncio que se apoderou dos bairros não é sinónimo de resignação. Significa que desta vez eles entram nos bairros e nas nossas casas intimidando ameaçando. Como não conseguiram mobilizar as populações para um comício de apoio ao seu acto tresloucado, decidiram proibir “qualquer tipo de marcha ou manifestação…”
Eles sabem que não fosse a força das armas que não hesitam em matar as ruas da Guiné-Bissau estariam fartas de gentes a gritar BASTA. Basta de GOLPES. Abaixo os Golpitas e seus Mentores.

Hoje quem pode sai da capital. A pé ou de toca-a-toca. O importante é vê-los pelas costas. Não têm medo de uma eventual e bem-vinda FORÇA INTERNACIONAL. Não é MENTIRA. Fogem sim dos homens das armas…Estes sim, metem medo pela embriaguez do ódio, da droga e do cadjol que tresanda dos seus bafos incontrolados, como incontrolados são os seus gestos e atitudes agressivas. Além de matar ROUBAM. O recolher obrigatório serve unicamente para ROUBAR e intimidar as pessoas. As suas principais vítimas são sobretudo os JOVENS. Roubam-nos até os telemóveis. Nós estamos cansados e fartos de ver gente não autorizada, não eleita, a impor a lei do mais forte e a impedir o povo guineense de seguir o seu destino. 
Por isso as populações fogem. Há dias a coberto do manto da noite, perto das 22 horas, um grupo de 25 pessoas, atulhados numa pequena canoa tentaram chegar a Caió, bem longe deles. Mas a pequena embarcação não resistiu à força das águas e das correntes afundou-se: Morreram 5 crianças de idade compreendida entre os 2 e os 13 anos. A segunda cidade do país, Bafatá já não comporta mais pessoas. As perto de 5 mil pessoas fugidas de Bissau criaram uma enorme rotura no mercado local. Já falta tudo.
Estamos de luto. A Guiné- Bissau está de luto. È preciso que o mundo saiba a verdade. É preciso que os prevaricadores de sempre sejam punidos. Os mesmos de sempre que alegaram agora outros motivos, voltaram a sair às ruas para metralhar, lançar granadas, obuses. Dizem-se militares e que estão a defender a terra. E quem os encomendou tal missão diabólica? Quem lhes fez confiança? Quem aprovou as anteriores investidas mortíferas que enlutaram tantas famílias? Que benefícios colhemos das inúmeras vezes que pegaram em armas. Basta! Basta! É tempo de denunciar os GOLPISTAS E SEUS APOIANTES QUE JAMAIS CHEGARÃO AO PODER SE DEIXAREM O POVO FALAR NAS URNAS.
 Sou jovem guineense, formado em França com elevadas notas académicas regressei optimista a no passado, cheio de vontade de juntar as minhas mãos ao esforço nacional de KUMPO TERRA, mas confesso, estou deprimido sinto-me abatido, sinto-me pequenino, impotente. Apetece-me gritar, gritar e negar tantos abusos contra a minha, nossa terra. Cada dia, cada hora uma desculpa um motivo incongruente… De cada vez que saem à rua é para aterrorizar. Para metralhar sobre o corpo da mama GUINÉ.
M´Bé…nha armons, já chega. Basta meus irmãos, BASTA. I djusta. É tempo de ousar dizer NÃO! Dizer que chega. Queremos ser iguais a todos os povos do mundo. Temos o direito ao sossego à Tranquilidade, à PAZ e ao Desenvolvimento. 

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