quinta-feira, 24 de maio de 2012

UMA PRIMEIRA MEDIDA DE RIGOR NA GESTÃO DOS FUNDOS PUBLICOS


Redução em 50% dos subsídios aos titulares de cargos públicos e equiparados

Presidente de Transição Serifo Nhamadjo durante o empossamento de Governo da Transição - 23 de Maio de 2012 | Foto: UNIOGBIS
Presidente de Transição Serifo Nhamadjo durante o empossamento de Governo da Transição - 23 de Maio de 2012 | Foto: UNIOGBIS
Bissau – O presidente da República de Transição determinou que seja reduzido em 50 por cento os subsídios atribuídos aos titulares de cargos públicos e equiparados.
Esta determinação de Serifo Nhamadjo foi transmitida ao chefe do Governo, Rui Barros na cerimónia de tomada de posse do novo governo. Nhamado pediu ao Primeiro-ministro para salvar o ano lectivo e providenciar o pagamento, ainda esta semana, dos salários.
Nhamadjo pediu aos novos governantes para evitarem o clientelismo político e militar e que pautassem pela competência técnica.
O Presidente da República de Transição voltou a insistir na necessidade de uma auditoria internacional ser feita, para que, segundo as suas justificações, “se possa saber como foi gerido o país nos últimos anos”.
Igualmente pediu que sejam esclarecidos os casos de assassínios ocorridos nos últimos anos em Bissau, e clarificado o caso 17 de Outubro, do reinado do ex-presidente Nino Vieira.
Serifo Nhamadjo, que tem pela frente um mandato de 12 meses, quer que o chefe do executivo estabeleça um roteiro de governação claro e realizável capaz de assegurar a realização de eleições gerais livres e transparentes com dados obtidos com base em recenseamento bio métrico que engloba a diáspora guineense.
Pediu maior atenção a presente campanha de cajú e a equidade do género, que reconhece não ter sido respeitada no presente governo por “razões alheias à nossa vontade”. Nhamadjo havia prometido que as mulheres ocupariam 30 por cento das pastas disponíveis.
Em declarações a Rádio Nacional o Primeiro-ministro, Rui Duarte de Barros disse que tem o governo desejado, que vai envidar todo o esforço para corresponder às expectativas. Rui Duarte de Barros garantiu que os salários começam a ser pagos esta semana e que o exacto dia depende do ministro das finanças.
Os membros do governo receberam no fim da cerimónia uma pasta contendo um código de conduta. Segundo Rui Duarte de Barros , o código recebido obriga a que os novos governantes declarassem os seus bens ao princípio e fim do mandato. “Ainda há informações sobre as incompatibilidades. Um membro do governo não pode estar a fazer comércio”, esclareceu o novo primeiro-ministro.
Por sua vez, o novo Ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou que um dos objectivos deste governo de transição é de “informar a comunidade internacional o que aconteceu” no país, para merecer novamente o seu apoio.
Faustino Imbali falava à ANG logo após a cerimónia de tomada de posse  do novo governo, resultante do golpe de estado de 12 de Abril último.
Consciente do certo isolamento da Guiné-Bissau, por parte dos países e entidades internacionais, Imbali assegurou que este trabalho será de “informação e de pedagogia”, acrescentando que acredita que as organizações internacionais das quais o país é membro, “ainda não dispõe de todas as informações sobre esta recente crise na Guiné-Bissau”.
Este antigo Primeiro-ministro assegura que a “credibilidade” do actual governo também pode ajudar no restabelecimento de relações e de um consequente apoio da Comunidade internacional.
O Ministro da Administração do Território e do Poder Local, igualmente em declarações à ANG prometeu trabalhar para que o executivo de transição materializasse a realização de um recenseamento bio métrico para as próximas eleições presidenciais e legislativas que irão ter lugar dentro de um ano.
Baptista Té considera este desejo plasmado no “Acordo Político” dos partidos que sustentam este governo de transição, de “importante” para que se possa sair do ciclo de desconfianças que pairam entre os actores do processo eleitoral guineense.
Fonte: Salvador Gomes, Agência de Notícias da Guiné-Bissau (ANG)

quarta-feira, 23 de maio de 2012

COMUNICADO Liga Guineense dos Direitos Humanos



Igualmente, o comando militar tornou publico ontem um comunicado a imprensa onde qualificou de inventona a suposta tentativa de golpe de estado de 26 de Dezembro que culminou com a detencao de Bubo Na Tchuto e demais outros oficiais superiores que entanto continuam detidos a cerca de 6 meses. Face a estes factos a Liga produziu um comunicado a imprensa que vai em anexo.


COMUNICADO À IMPRENSA

Em virtude da evolução politica e consequente agravamento da situação dos direitos humanos no país, após ao golpe de estado de 12 de Abril, a Direção Nacional da Liga Guineense dos Direitos Humanos vem mais uma vez, manifestar a sua preocupação face à situação dos detidos em conexão com o caso da alegada tentativa de golpe de estado de 26 de Dezembro 2011, e do acordo político assinado entre diferentes partidos políticos e o Comando militar.

Em Dezembro de 2011, um grupo de cidadãos, incluindo altos oficias miltiares foram acusados e detidos pelas autoridades militares e posteriormente transferidos para a justiça, tendo alguns já sido acusados pelos crimes de alteração de estado de direito e associação criminosa pelo Ministerio Publico, no passado mês de Março do ano em curso.

Não obstante, as conclusões aduzidas pelas instâncias judiciárias, o Comando Militar tornou público ontem dia 22 de Abril, através de um comunicado à imprensa que a alegada tentativa do golpe de estado, do passado dia 26 de Dezembro 2011, não passa de uma inventona. Com este anúncio, aparentemente deixaram de existir os fundamentos legais e objectivos para a continuação do regime de detenção, em que se encontram alguns oficiais superiores e subalternos das Forças Armadas a cerca de 6 meses.

Por outro lado, no quadro da transição politica que se preconiza para um periodo de 12 meses, o Comando Militar e alguns partidos politicos rubricaram um Acordo Poltico no passado dia 18 do corrente mês, que prevê no seu artigo n 1 alinea d) citamos: “ a adopção pela ANP de uma lei de amnestia em favor dos autores do golpe de estado militar de 12 de Abril de 2012” fim da citação.

Para reavivar a memória dos guineenses e da comunidade internacional, a Assembleia Nacional Popular aprovou no dia 4 de Março 2008, a lei nº 5 / 2008, pela qual foram amnestiados os crimes e infracções de motivações político-militares, cometidos tanto na Guiné-Bissau como no estrangeiro desde a independência até ao caso 6 de Outubro 2004 que culminou com os assassinatos do Chefe de Estado Maior, General Vericimo Correia Seabra e do Coronel Domingos Barros.

Desde esta altura até à presente data, a Guiné-Bissau assistiu um ciclo vicioso de instabilidade politica e militar ou seja, duas alegadas tentativas de golpes de estado, assassinatos de altas figuras do estado, várias sublevações militares, um golpe de estado e vários outros casos que envolveram os militares e dirigentes políticos, pondo em causa as bases sobre as quais assentam a democracia e o estado de direito, em particular a finalidade e a razão de ser da amnestia. Estes factos demonstram de forma inequívoca que a opção pela via de amnistia na realidade guineense não só consubstancia num desvio aos seus fins, mas também serve de incentivo à institucionalização da impunidade e as violações sistemáticas dos direitos humanos.

Face ao acima exposto, a Direcção Nacional da LGDH delibera os seguintes:

1. Exortar o Estado Maior General das Forças Armadas, enquanto o principal denunciante do caso de alegada tentativa de golpe de estado de 26 de Dezembro de 2012, o maior esclarecimento junto das autoridades judiciárias;

2. Exigir a libertação imediata de Bubo Na Tchuto, Watna na Lai, Clecthe na Incanha e demais outros detidos, em conexão com a suposta tentativa do golpe de estado;

3. Denunciar o acordo político assinado entre militares e partidos políticos pela sua contradição com os desígnios de combate à impunidade e os esforços de consolidação da paz e do estado de direito;

4. Exortar os deputados da Nação e a classe politica em geral no sentido de rejeitarem liminarmente quaisquer iniciativa legislativa que visa amnistiar os autores materiais e morais do golpe de estado do dia 12 de Abril 2012, que causou e tem causado danos incalculaveis ao povo guineense;

5. Exigir mais uma vez, ao Comando Militar, a levantamento imediato da interdicao ilegal de viagens impostas a 58 cidadãos.

6. Exigir a cessação imediata das perseguições politicas, bem como da criação seguranca aos dirigentes politicos para pôr fim a cladestinidade a que se encontram a maioria deles.

Feito em Bissau aos 23 dias do mês de Maio 2012

A Direcçao Nacional

terça-feira, 15 de maio de 2012

Noticia sobre o Forum de Reflexão de Fès.


Fórum da reflexão sobre a Guiné, com os estudantes Guineenses em Marrocos –Fès (Grupo Fidjus di Tchon)
A Situação sociopolítica na Guiné-Bissau e o sistema de ensino marroquino face aos estudantes estrangeiros, foram motivos de debate que marcou o primeiro “fórum da reflexão” no passado Sábado, Doze de Maio do corrente ano, com os estudantes guineenses residentes em Marrocos cidade Fés.
Organizado por um grupo de estudantes denominado “FIDJUS DI TCHON”, o encontro visou a reflexão profunda sobre a situação actual do país como também incentivar os jovens estudantes na mudança de mentalidade porque são os futuros homens para o desenvolvimento da Guiné-Bissau, como nos deu conta o presidente da comissão organizadora, Railord Delmard Gomes. “Gostaria de salientar ainda de que não devemos ter medo, vergonha e nem devemos ser covardes de ficar de braços cruzados perante uma situação lamentável do nosso país. Pois, somos jovens estudantes temos que estar preparado para assumir o comando do nosso país enquanto futuros quadros. Temos a energia renovada e cheios de esperança, estamos a preparar de maneira alguma para, auxiliarmos na transformação de nosso País em uma grande nação. E hoje, especialmente, apostamos antes de mais nada na sua capacidade de criar e transformar na realidade. Não basta ter sonhos para realizá-los. É preciso sonhar, mas com a condição de crer nos nossos sonhos, uma Guiné de paz”.
Além de ser uma ideia brilhante, segundo as opiniões dos participantes, pediram a repetição sucessiva deste tipo do evento, não só quando houver uma sublevação no país mas também como forma de trocar experiencias entre estudantes. “O fórum teve perguntas de reflexões brilhantes, onde discutimos e tiramos a conclusão de que vale a pena lutar para uma Guiné melhor.
Porque nós como futuros quadros, temos que começar a pensar no futuro do nosso país, e dar a nossa contribuição mesmo estando longe de uma forma directa ou indirectamente.
Eu na qualidade do presidente da comissão organizadora deste fórum, vi que vale a pena sonhar para realizar, só assim levaremos a Guiné-Bissau num bom caminho, e pretendo fazer com que este evento volte a acontecer porque, com este tipo de evento podemos ganhar mais experiencias entre nós e, a maneira de reflectir sobre qualquer que seja situação sociopolítica do país”.
O evento durou mais de quatro horas de tempo no salão da reunião “Chambre de Comerce de Fès”, os temas foram orados por um guineense e um professor Marroquino, onde participaram mais de Setenta estudantes e, em jeito da conclusão, foram lançadas mais de vinte e cinco perguntas que exigiam analise e reflexão sobre a Guiné-Bissau e a vida dos estudantes em Marrocos.

Cláudio António da Silva Rumal – Marrocos/Fès.

Forum de Estudantes Guineenses na Cidade Maroquina de Fès. Movimento da diaspora engajado na busca de soluções para Paz e Democracia na Guiné-Bissau




Esta ação realizada no passado dia 12 de Maio, enquadra-se na continuidade do processo de mobilização da diaspora espalhada pelo mundo fora na sequência dos acontecimentos de 12 de Abril ultimo. Exemplos de género multiplicar-se cada vez mais, numa altura em que almejamos todos à um retorno à normalidade e funcionamento das instituições do Estado Guineense. MANTEMOS A NOSSA DETERMINACAO PELA PAZ, JUSTICA E DEMOCRACIA E "ERMONDADI" NA GUINE-BISSAU.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

A falta de politicas economicas coerentes e uma cooperação economica fraca: factores de instabilidade politica e institucional na Guiné-Bissau

A Guiné-Bissau encontra-se hoje no estado em que se encontra por uma razão talvez longe de ser aquela que sempre apontamos a da ingerência dos militares nos assuntos politicos, que para mim é uma das consequências dramaticas da principal causa do sub-desenvolvimento do nosso pais. Para mim a resposta às diversas crises que assolam a Guiné-Bissau reside na falta de politicas economicas nacionais coerentes em geral e na de cooperação economica em particular.

Se formos ver bem, o mundo se constroi com base de duas riquezas essencialmente, uma natural e outra humana. Ora a Guiné-Bissau tem a sorte divina de possuir as duas. A natureza põe as suas potencialidades à disposição do homem que valoriza e transforma em riquezas economicas e em produtos destinados ao consumo que por sua vez genera o valor acrescentado para a economia. Mas na verdade não é o que se verifica na Guiné-Bissau, que herdou o capote de pais mais pobre do mundo não obstante as suas riquezas (entre os 5 segundo IDH PNUD- dos ultimos anos).

Naturalmente, a Guiné-Bissau é um pais com um espaço territorial reduzido, mas dotado de riquezas importantes. Pois, para além da zona costeira onde fica situada, as suas aguas maritimas e fluviais que percorrem o seu interior, a elevada taxa de pluviometria que cobre a sua época das chuvas, constituem por si so factores naturais de uma riqueza inestimavel, isso para não falar do seu subsolo cujas potencialidades ainda aguardam o melhor julgamento das suas reais existências e valores para a sua população e o mundo fora. Pois sou daqueles que não acreditam que o petroleo, o fosfato, a bauxite e outros metais preciosos que se expeculam no nosso subsolo sejam de uma infimo tamanho que não possa servir para atrair investimentos consideraveis e para aliviar a pobreza da sua população endividada através de ajudas externas.

Em termos humanos, não se pode falar de riqueza de forma quantitativa sobretudo do ponto de vista do mercado por exemplo, mas vamos considera-la do ponto de vista economico. Pois com 1.5 Milhões de habitantes e uma superficie de 36125 km², a Guiné-Bissau enquadra-se na lista dos paises menos populosos do mundo. Mas dentro desse reduzido numero de habitantes, existem enormes potencialidades humanas ainda por explorar, descobrir e valorizar. Por isso, afirmo que humanamente somos muito ricos, porque no dia em que forem reveladas e valorizadas as competências dos guineenses, daremos um salto qualitativo em termos economicos, sociais, culturais, tecnologicos e politico-diplomaticos, ultrapassando todos objectivos de desenvolvimento que até aqui nos colocam entre paises cujo risco de falhanço é muito elevado.

Acredito sim que podemos fazer mentir os grandes comentadores politicos e economicos que consideram que a Guiné-Bissau não dispõe de recursos que podem lhe garantir uma subsistência sem a comunidade internacional, pelo menos à médio e longo prazo. A melhor forma de alcançarmos esse objectivo é de valorizarmos o homem guineense, a sua forma de pensar, de falar, as suas invenções e os seus pontos de vista, em tudo que fazemos. E preciso que haja uma forte vontade politica e social de mudar a realidade nacional transformando-a numa verdadeira atração turistica e de regresso dos cérebros nacionais num primeiro lugar e de investimentos num segundo. Essa primeira transformação é que vai nos ajudar à alcançar os objectivos de desenvolvimento futuro da economia nacional com base nas nossas riquezas naturais pelos nossos recursos humanos. Peguemos os exemplos da Suiça, da Ilha Mauricia, da Finlândia, etc., paises pequenos com poucos habitantes mas que apostaram nos seus recursos humanos para inventarem produtos que fazem diferença no mundo.

Considero muito arriscado senão suicidiario para qualquer homem ou Estado de decidir lançar operações de grande envergadura no âmbito economico e comercial sem ter competências para tal, sobretudo para sua gestão e contrôle. E é o que se verifica actualmente na Guiné-Bissau. Pois ao longo dos ultimos sete anos, tem havido muita pressão sobre os governantes no sentido de valorizarem as suas riquezas naturais nomeadamente o fosfato, a bauxite e petroleo, para não falar de outras minas cuja propabilidade de existência é muito forte, nas regiões do sudeste do pais. Essa pressão em vez de constituir ponto de partida para uma reflexão nacional sobre o interesse que realmente representa o pais para o seu povo e para o mundo, transformaram-se em oportunidades politicas de financiamento de partidos politicos e de enriquecimento ilicito para alguns cidadãos cujos cargos politicos e ou posições sociais permitiram aproveitar das fraquezas do sistema.
Desde sempre o unico recurso que era atribuido como contrapartida nacional nas negociações com alguns parceiros economicos era o pescado. Mas não obstante a longa tradição nas negociações de acordos de pesca, a Guiné-Bissau ainda permanece longe dos interesses nacionais nos acordos até aqui concluidos tanto com a China, Correia do Sul, Senegal, como coma União Europeia. A China por exemplo entra com projectos de infrastruturas que são apresentados como donativos, e a União Europeia um fundo de contrapartida que chegou de subir até 11 Milhões de Euros por ano, quando os nossos vizinhos recebem mais de 100 Milhões para quantidades de pescado não longe de serem iguais. Factos que não podemos considerar de rentaveis para o pais, tendo em conta que nem o fundo de contrapartida da UE e nem os donativos da China entram na balança nacional de pagamentos.

Os processos de exploração do fosfato e de bauxite tiveram o seu inicio de forma dinâmica entre 2004/05. Mas o que acontece é que em vez de iniciar a sua valorização pela logica, saltamos (nos guineenses) todas etapas para cair na etapa final, adjudicando os poucos recursos ja descobertos, sem quaisquer ou grandes contrapartidas para o interesse nacional, embora politicamente alguns individuos beneficiarios das primeiras entradas de divisa nessas operações consideram-se nacionais.

Hoje na Guiné não se fala de uma equipa de quadros nacionais especializados em negociações internacionais. Não se fala de especialistas de mercados de fosfato, do petroleo, da bauxite, etc. Ora, um geologo por mais que seja técnico conhecedor da matéria, pode não ser considerado especialista das negociações. O mesmo acontece na gestão dos dossiers de adjudicação dos blocos de petroleo ao longo dos ultimos e na mais recente questão de bauxite, que finalmente foi parar nas mãos de Angola Bauxite. E preciso darmos mais atenção à esse capitulo de cooperação criando competências nacionais. Não se pode sonhar obter quaisquer ganhos quando se negocia com um angolano ou nigeriano nas questões de petroleo, porque eles ja la vive ha anos e conhecem todas as zonas de sombra e de luz que nos desconhecemos. As consultorias que encomendamos no Banco Mundial e outros parceiros, não são suficientes para nos atribuirem maiores ganhos, pois o parecer do consultor internacional fica para a decisão de ministros que por sua vez vão pedir conselhos aos seus técnicos internamente e também aguardar pelas promessas de envelopes para as suas contas pessoais.

Mas a mais temente das realidades é que todos acordos são celebrados da mais discreta forma possivel, cabendo aos ministros tutelares das pastas decidirem sobre quem deve ou não continuar à explorar o recurso que lhe foi adjudicado pelo seu sucessor. Nisso assistimos à expropriação de varias propriedades e empresas de exploração na Guiné-Bissau, o caso mais recente é o da GB Phosphate&Mining com o argumento de que os contratos anteriores não eram crediveis, quando os novos não o representam melhor. Não se assiste na Guiné-Bissau à debates publicos sobre os sectores chaves, e sobre contratos de grande envergadura como no caso de bauxite com Angola, onde as populações das zonas concernentes não são informadas e nem consultadas e o pior é que acabam sendo desalojadas sem garantias de atribuição de novas localidades para a sua instalação e subsistência, pois sabe-se que no meio rural so se vive da agricultura e que a terra é a principal empresa do agricultor.

Mas voltanto para falar das etapas, para um pais que pretende desenvolver-se, é muito perigoso confiar a sua promoção e defesa exclusivamente nas mãos da comunidade internacional seja de forma bilateral como multilateral. Na Guiné-Bissau é o que se verifica infelizmente. Temos muitos economistas dentro e fora do pais, mas internamente ninguém trabalha na area de cooperação economica, que ha muito tempo devia ser uma das prioridades da nossa politica externa no meu ponto de vista, mas não é na realidade. Tudo é confiado aos especialistas de fora, tanto do Banco Mundial, do BAD, da União Europeia, de Portugal, etc., deixando opiniões nacionais fora de quaisquer considerações internas. Analizemos o que nos traz como resultado uma tal realidade.

Na logica, da mesma forma que se definem projectos ou politicas a partir de estudos, analises, reflexões, debates e programações, assim se devia trabalhar nesse capitulo de exploração dos nossos recursos naturais, cuja importância e o valor para o pais ultrapassam uma simples decisão de um Ministro e do seu gabinete, assim como um partido no poder ou na oposição, que ultimamente têm utilizado esse argumento para mobilizar recursos com vista à financiar as suas camapanhas eleitorais.

Internamente não se promovem competências nacionais no dominio de cooperação economica que passa por estudos sectoriais aprofundados e repertoriamente das potencialidades existentes e a sua justa avaliação, pela negociação de acordos, pela promoção de investimentos, pela mobilização de linhas de crédito e de garantias de investimentos para o pais, e enfim pela celebração de parcerias comerciais entre o sector privado nacional e estrangeiro conforme mercados potencialmente rentaveis. Tudo isso não faz parte das agendas politicas e diplomaticas nacionais actualmente, embora haja ainda hoje alguns esforços infimos nesse sentido, mas tudo de forma isolada e sem grandes considerações por parte das autoridades.

Externamente, não se fala da Guiné-Bissau como um pais potencialmente rico com recursos que podem atrair qualquer tipo de investidor, pois a promoção do pais esta dominada por uma imagem negativa de um pais pobre e sem quaisquer oportunidades de negocio e investimento, minado por um clima de instabilidade politica e institucional permanente. Prova disso, é a inexistência de estruturas e ou unidades especializadas ao nivel das nossas representações diplomaticas e dentro de pais. Hoje não se entra na Guiné-Bissau e vê uma unica imagem linda das nossas potencialidades, assim como não se ouve falar de eventos de caracter promocional ou de um gabinete de promoção turistica da Guiné-Bissau no mundo fora. Tudo isso justifica-se pela ausência de uma visão e politica da cooperação economica.

Agora indo para as consequências dessa falta de politica da cooperação economica, digo que conduz o pais ao caos em que nos encontramos hoje. Porque para que uma economia seja dinâmica e viva, é preciso que hajam capitais disponiveis e em circulação permanente. O que não se verifica na Guiné-Bissau, pois não ha instituições financeiras com capacidade de garantir uma circulação regular de capitais. Quando é assim, não podemos assistir ao nascimento e crescimento de um sector empresarial em todos seus componentes, com muitas promessas. Pois os bancos vivem de poupanças e de serviços bancarios essencialmente realizados e consumidos pelos operadores economicos. Mas para que isso possa funcionar é preciso que haja um clima politico, social e institucional favoravel e estavel. O que infelizmente não conseguimos instaurar até aqui na Guiné-Bissau.

Embora seja muito mais facil concluir que os militares são o principal factor dessa questão de instabilidade, mas indo ao fundo do problema, veremos que as principais causas residem essencialmente nas questões de pobreza e sub-desenvolvimento que nos caracterizam. Porque sem capitais não ha investimentos e sem investimentos não ha actividade economica, sem actividade economica não ha emprego, sem emprego não ha consumo e sem consumo não se pode falar de crescimento economico. Logo podemos concluir como essa situação a paz e estabilidade ficam ameaçadas, pois todos actores ficam expostos à morte lenta. Então quando é assim o mais forte tende à recorrer à sua força para poder dominar e garantir o maximo de proveitos para a sua sobrevivência no mais longo prazo possivel.

A partir dessa constatação, assistimos ao nascimento e crescimento da corrupção politica e financeira que conduziram à perda de rigor e de contrôle da administração e do sector publico, dando lugar à impunidade e falta de justiça generalizada, isso quando falamos do Estado e dos seus servidores ; numa onda crescente de violência e de criminalidade caracterizadas por assaltos, traficos, branquiamento de capitais e outros males, no seio da sociedade em geral, pois cada um tem de encontrar a forma de sobreviver ; do recurso às armas para tentar repôr ordens e exigir « justiça social » por parte dos militares que na realidade também reclamam mais garantias para a sua sobrevivência ; enfim, na existência de uma classe empresarial funcinando no sistema D, esperando cada um beneficiar das fragilidades do aparelho administrativo nacional para se isentar de pagamento das suas contribuições e dever patronal para com os trabalhadores, com o argumento de que instabilidade tem ocasionado apenas perdas que não permitem cumprir com o dever. Analizemos donde vem tudo isso e tiremos as nossas conclusões.

Em conclusão, tenho coragem de afirmar que um dos primeiros factores de instabilidade na Guiné-Bissau é a falta de politicas economicas coerentes e viaveis. Pois nenhum governante até aqui teve a paciência de parar para pensar na melhor forma de governar a Guiné-Bissau a partir da Guiné-Bissau no verdadeiro sentido de palavra. Os primeiros discursos politicos de Presidentes da Republica e Primeiros Ministros são sempre orientados para a comunidade internacional, pedindo apoios, mas sempre materiais, pondo a parte técnica e cientifica no ultimo plano. Esquecemos por completo o ditado chinês «  em vez de me oferecer o peixe ensina-me a pescar », que para mim é a unica forma de desenvolvermos a nossa economia, criando empregos e valor acrescentado, condições sine qua non para uma estabilidade social, politica e economica duradoura. Pois que tem algo para fazer não passa tempo à falar mal dos outros e nem vive de inveja e de odio, mas sim passa o tempo à trabalhar e à inventar. Isso é valido para todas camadas sociais na Guiné-Bissau. E preciso que sejamos mais honestos para connosco enquanto cidadãos guineenses, nenhum parceiro internacional fará a promoção da Guiné-Bissau melhor do que os proprios guineenses, não é tarefa que exige apenas tecnicidade embora seja necessaria, mas sim amor à patria, coordenação de sinergias e talento e vontade de transmitir uma imagem positiva que permite pôr os nossos parceiros em confiança.

Que a Guiné-Bissau seja responsavel pela sua diplomacia e que integre a vertente de promoção e cooperação economica nas suas prioridades de cooperação internacional. Mas tudo deve ser assente nas competências nacionais.

BEM HAJA

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Lourenço da Silva
Consultor Internacional
Especialista em Management e Gestão de Empresa
Técnico Superior de Turismo






sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Triângulo do Mal:Como é que a Guiné-Bissau pode Escapar do Ciclo Vicioso da Instabilidade?


A Guiné-Bissau está outra vez na boca do mundo pelas mesmas, bem conhecidas razões. Porque é que este pequeno e paupérrimo país da África Ocidental é tão propenso a golpes de Estado? A resposta que muitos especialistas têm na ponta da língua é: a armadilha dos militares. Mas eu suspeito que esta resposta seja apenas uma meia-verdade.

Sim, as forças armadas são uma bagunça. Durante muitos anos, elas mantiveram uma perigosa promiscuidade com os políticos. Os políticos usaram-nas para servir seus interesses cripto-partidários, e as forças armadas, sentindo-se exageradamente importantes, usaram por sua vez os políticos para defender os seus interesses, individuais ou colectivos. Mas, como em qualquer relação promíscua, às vezes as rupturas são dolorosas. Consequentemente, golpes de Estado -- bem sucedidos, falhados ou presumidos -- atingiram o país em 1980, 1985, 1992, 1998, 2000, 2004, 2009, 2010 e 2012. A contagem é pesada.

Estes soldados desprovidos de formação são simples profissionais da guerra -- e não mais do que isso. Eles nunca tiveram oportunidades económicas para se integrarem na vida civil, e o poder político pouco fez para os educar e capacitar, nem tão pouco para transformar o exército de guerrilheiros em forças armadas disciplinadas, modernas e republicanas. Como resultado, eles tornaram-se um perigo para a sociedade.
A guerra civil de 1998-99 foi a gota de água que fez transbordar o copo: pela primeira vez o poder político e os parceiros de desenvolvimento colocaram a reforma do exército no topo da agenda política e de desenvolvimento. Mas os esforços de reforma até aqui falharam. O Banco Mundial financiou um Projecto de demobilização em 1999. O projecto desmobilizou centenas de soldados, mas o número total de soldados continuou a aumentar à medida que novos indivíduos se juntavam ao exército em resultado de novos conflitos. A história mais recente é o programa de reforma patrocinado pela União Europeia, que acabou por ser um retumbante fracasso, com a UE e o governo a acusarem-se mutuamente pelos maus resultados.
Na minha opinião, a razão fundamental destes fracassos se resume a esta simples frase: falta de dinheiro. E a este respeito, a comunidade internacional encaixa a maior parte da responsabilidade. Ela nunca colocou em cima da mesa o dinheiro realmente necessário para "comprar" a estabilidade. Sim, a paz e a estabilidade têm o seu preço. Com o tempo, os custos de oportunidade da reforma dispararam à medida que o país caía na armadilha do tráfico de drogas - e elementos proeminentes do exército se envolviam nesse negócio. Com efeito, porque é que um general irá ficar em casa se ele pode ganhar muito dinheiro fácil do tráfico de drogas?
Que solução então? Eu penso que ela passa pela CEDEAO. Ela é a organização mais bem posicionada hoje para oferecer uma solução para esta crise. Porque é geográfica e economicamente a que mais se identifica com a Guiné-Bissau; porque conhece a realidade do país; porque ela granjeou alguma credibilidade na resolução de conflitos recentes na sub-região; e, finalmente, porque nesses processos ela adquiriu alguma experiência. Mas seria importante que a CEDEAO oferecesse à Guiné-Bissau soluções sustentáveis de longo prazo, e não as mesmas soluções voláteis de curto prazo, como tem acontecido até aqui com outras crises no país. E isso começa com a garantia da presença de uma força militar da CEDEAO na Guiné-Bissau para proteger as instituições, treinar o exército e garantir uma transição política suave. A CEDEAO também deve ajudar a mobilizar suficientes recursos financeiros para, finalmente, concluir o processo de reforma das forças armadas. Não se pode esperar que os magros recursos que têm sido colocados até agora em cima da mesa, façam os homens armados ir para casa.
Mas se a reforma das forças de defesa e de segurança é fundamental para a estabilidade política, há um outro pilar crucial que deve ir em paralelo: a justiça. A denegação da justiça e a impunidade têm sido a regra na Guiné-Bissau, particularmente com relação aos crimes políticos. Embora o fenómeno não seja novo, o que impressiona mais é o acumular recente de casos não resolvidos de relevante interesse público. Tenho em mente o duplo assassinato do Chefe do Estado Maior das Forças Armadas e do presidente Vieira em 2009, bem como o assassinato de outras figuras políticas em 2010.

Na consciência colectiva dos guineenses, o país está perigosamente a escorregar para o "reino da impunidade ", com o poder político a não conseguir - ou a não estar interessado – em ver os crimes julgados ou esclarecidos. O resultado óbvio junto da população é a sensação psicológica da exposição ao arbitrário que pode empurrar as pessoas para a esfera perigosa da justiça privada. As leis, os tribunais e os juízes estão lá, mas a justiça é notavelmente ausente. Uma rápida reforma do sistema de justiça é fundamental, e talvez uma espécie de "Plano Marshal " para a justiça seja necessário para desbloquear o seu funcionamento. No curto prazo, isto é mais importante do que organizar novas eleições. E várias organizações internacionais podem ajudar nesse sentido, incluindo as Nações Unidas, o PNUD e o Banco Mundial, para citar apenas algumas.
Finalmente, há o tráfico de drogas que se tornou o rótulo do país. Mesmo que o fenómeno seja omnipresente em toda a região da África Ocidental, a Guiné-Bissau tem sido destacada como um “Narco Estado ". Isso em parte porque é um Estado frágil com recursos muito limitados para combater os gangues, e em parte porque elementos presumivelmente poderosos da hierarquia militar e política do país estão envolvidos nesse tráfico. O combate ao tráfico de droga requer meios que a Guiné-Bissau sozinha não possui. O apoio externo necessário poderia vir, mais uma vez, da CEDEAO como parte do mandato da sua força, apoiada por outras organizações regionais e internacionais.
Por conseguinte: exército, justiça e tráfico de drogas. Qualquer roteiro para a estabilização política da Guiné-Bissau deve circular em torno deste triângulo do mal. Mas na minha opinião, a passagem deste roteiro para a prática exigirá duas condições: liderança e tempo.

Neste novo ciclo de transição em que a Guiné-Bissau está a entrar uma escolha bem-sucedida dos seus novos líderes é fundamental. Eu defendo que o Presidente deve ser designado com respeito pela Constituição, e que deve ser nomeado uma personalidade credível para liderar um governo de transição, um homem ou mulher que reúne consenso, é respeitado por todas as partes, e que beneficia da confiança de todos os diferentes grupos, incluindo o exército, os políticos e os membros da sociedade civil, a fim de navegar no complexo processo político de transição.

A segunda condição é o tempo: os três elementos que formam o triângulo do mal devem ser resolvidos dentro do prazo do período de transição. Eleições justas e transparentes serão mais bem aceites por todos quando houver um exército republicano, uma justiça funcional e um país livre do tráfico de drogas. Isto pode requerer mais de um ano, provavelmente dois a três anos. Este calendário vale a pena. A comunidade internacional deve evitar cair na armadilha da sua receita convencional: "a corrida às eleições". Ela não resolveu qualquer problema no passado. É pouco provável que vá resolver desta vez.

Geraldo Martins

BOM NOBAS DI GUINE: DOIS DIRIGENTES POLITICOS LIBERTADOS, A GUINE-BISSAU ESPERANDO MELHORES DIAS DO DIALOGO PARA A SAIDA DE CRISE.


CORTESIA: GBissau.com*

Carlos Gomes Jr. (Esq) e Raimundo Pereira (Dir.)
Carlos Gomes Jr. (Esq) e Raimundo Pereira (Dir.)
O Presidente Interino Raimundo Pereira e o Primeiro-ministro Carlos Gomes Jr. foram libertados ao início da tarde de hoje em Bissau, momentos após o encontro entre o Comando Militar e os chefes das forças armadas da Nigéria, do Senegal e da Costa do Marfim.
De acordo com uma fonte militar em Bissau – não mandatada para falar em nome do grupo – disse que as duas figuras já se encontram a caminho de Cotê D’Ivoire (Costa Marfim) onde presumivelmente vão estar hospedados por alguns dias, antes de qualquer tomada de decisão sobre os seus futuros políticos.
Embora a reuniao extraordinaria tenha exigido o retorno à legalidade constitucional, nos círculos politicos e militares guineenses, são poucos os que admitem a possibilidade do regresso de Carlos Gomes Jr. à chefia do governo. Daí que as probabilidades das duas figuram estarem em Costa de Marfim para qualquer tipo de negociação sejam quase escassas.
Em Bissau, não houve nenhum anúncio formal e oficial por parte do Comando Militar sobre a libertação das duas figuras.
Mas, a mesma fonte militar adiantou que Raimundo Pereira e Carlos Gomes Jr. seguiram para a Costa de Marfim na “companhia de três chefes de estado maior de três países da Subregião”. Tratam-se, portanto, das chefias militares da Costa de Marfim, de Senegal e a da Nigéria.
Recorde-se que o governo de Carlos Gomes Jr. fora derrubado na sequência de Golpe militar de passado 12 de Abril. E na reunião da CEDEAO na quinta-feira em Abidjan, a cúpula Africana tinha dado um último de 72 horas para a libertação de todos presos políticos, nomeadamente Raimundo Pereira e Carlos Gomes Jr.
Se estas exigências não fossem cumpridas, a CEDEAO tinha ameaçado “impor, com efeito imediato, sanções específicas sobre os membros do Comando Militar e seus associados, bem como sanções diplomáticas, económicas e financeiras sobre a Guiné-Bissau.”
Até ontem o Comando Militar falava de apenas três prisões que incluíam também o secretário de Estado dos Combatentes da Liberdade da Pátria, o brigadeiro-general Fodé Cassamá. Ainda não se sabe se Fodé Cassamá foi libertado ou não.
Entretanto em Bissau, aguarda-se a chegada de mais uma equipa técnica da CEDEAO para começar a estudar as moldes de retorno à normalidade constitucional bem como a formação de um governo de transição com uma duração de um ano.
*Com a Contribuição de Jornalista Califa Soares Cassamá, em Bissau