quarta-feira, 2 de maio de 2012

A falta de politicas economicas coerentes e uma cooperação economica fraca: factores de instabilidade politica e institucional na Guiné-Bissau

A Guiné-Bissau encontra-se hoje no estado em que se encontra por uma razão talvez longe de ser aquela que sempre apontamos a da ingerência dos militares nos assuntos politicos, que para mim é uma das consequências dramaticas da principal causa do sub-desenvolvimento do nosso pais. Para mim a resposta às diversas crises que assolam a Guiné-Bissau reside na falta de politicas economicas nacionais coerentes em geral e na de cooperação economica em particular.

Se formos ver bem, o mundo se constroi com base de duas riquezas essencialmente, uma natural e outra humana. Ora a Guiné-Bissau tem a sorte divina de possuir as duas. A natureza põe as suas potencialidades à disposição do homem que valoriza e transforma em riquezas economicas e em produtos destinados ao consumo que por sua vez genera o valor acrescentado para a economia. Mas na verdade não é o que se verifica na Guiné-Bissau, que herdou o capote de pais mais pobre do mundo não obstante as suas riquezas (entre os 5 segundo IDH PNUD- dos ultimos anos).

Naturalmente, a Guiné-Bissau é um pais com um espaço territorial reduzido, mas dotado de riquezas importantes. Pois, para além da zona costeira onde fica situada, as suas aguas maritimas e fluviais que percorrem o seu interior, a elevada taxa de pluviometria que cobre a sua época das chuvas, constituem por si so factores naturais de uma riqueza inestimavel, isso para não falar do seu subsolo cujas potencialidades ainda aguardam o melhor julgamento das suas reais existências e valores para a sua população e o mundo fora. Pois sou daqueles que não acreditam que o petroleo, o fosfato, a bauxite e outros metais preciosos que se expeculam no nosso subsolo sejam de uma infimo tamanho que não possa servir para atrair investimentos consideraveis e para aliviar a pobreza da sua população endividada através de ajudas externas.

Em termos humanos, não se pode falar de riqueza de forma quantitativa sobretudo do ponto de vista do mercado por exemplo, mas vamos considera-la do ponto de vista economico. Pois com 1.5 Milhões de habitantes e uma superficie de 36125 km², a Guiné-Bissau enquadra-se na lista dos paises menos populosos do mundo. Mas dentro desse reduzido numero de habitantes, existem enormes potencialidades humanas ainda por explorar, descobrir e valorizar. Por isso, afirmo que humanamente somos muito ricos, porque no dia em que forem reveladas e valorizadas as competências dos guineenses, daremos um salto qualitativo em termos economicos, sociais, culturais, tecnologicos e politico-diplomaticos, ultrapassando todos objectivos de desenvolvimento que até aqui nos colocam entre paises cujo risco de falhanço é muito elevado.

Acredito sim que podemos fazer mentir os grandes comentadores politicos e economicos que consideram que a Guiné-Bissau não dispõe de recursos que podem lhe garantir uma subsistência sem a comunidade internacional, pelo menos à médio e longo prazo. A melhor forma de alcançarmos esse objectivo é de valorizarmos o homem guineense, a sua forma de pensar, de falar, as suas invenções e os seus pontos de vista, em tudo que fazemos. E preciso que haja uma forte vontade politica e social de mudar a realidade nacional transformando-a numa verdadeira atração turistica e de regresso dos cérebros nacionais num primeiro lugar e de investimentos num segundo. Essa primeira transformação é que vai nos ajudar à alcançar os objectivos de desenvolvimento futuro da economia nacional com base nas nossas riquezas naturais pelos nossos recursos humanos. Peguemos os exemplos da Suiça, da Ilha Mauricia, da Finlândia, etc., paises pequenos com poucos habitantes mas que apostaram nos seus recursos humanos para inventarem produtos que fazem diferença no mundo.

Considero muito arriscado senão suicidiario para qualquer homem ou Estado de decidir lançar operações de grande envergadura no âmbito economico e comercial sem ter competências para tal, sobretudo para sua gestão e contrôle. E é o que se verifica actualmente na Guiné-Bissau. Pois ao longo dos ultimos sete anos, tem havido muita pressão sobre os governantes no sentido de valorizarem as suas riquezas naturais nomeadamente o fosfato, a bauxite e petroleo, para não falar de outras minas cuja propabilidade de existência é muito forte, nas regiões do sudeste do pais. Essa pressão em vez de constituir ponto de partida para uma reflexão nacional sobre o interesse que realmente representa o pais para o seu povo e para o mundo, transformaram-se em oportunidades politicas de financiamento de partidos politicos e de enriquecimento ilicito para alguns cidadãos cujos cargos politicos e ou posições sociais permitiram aproveitar das fraquezas do sistema.
Desde sempre o unico recurso que era atribuido como contrapartida nacional nas negociações com alguns parceiros economicos era o pescado. Mas não obstante a longa tradição nas negociações de acordos de pesca, a Guiné-Bissau ainda permanece longe dos interesses nacionais nos acordos até aqui concluidos tanto com a China, Correia do Sul, Senegal, como coma União Europeia. A China por exemplo entra com projectos de infrastruturas que são apresentados como donativos, e a União Europeia um fundo de contrapartida que chegou de subir até 11 Milhões de Euros por ano, quando os nossos vizinhos recebem mais de 100 Milhões para quantidades de pescado não longe de serem iguais. Factos que não podemos considerar de rentaveis para o pais, tendo em conta que nem o fundo de contrapartida da UE e nem os donativos da China entram na balança nacional de pagamentos.

Os processos de exploração do fosfato e de bauxite tiveram o seu inicio de forma dinâmica entre 2004/05. Mas o que acontece é que em vez de iniciar a sua valorização pela logica, saltamos (nos guineenses) todas etapas para cair na etapa final, adjudicando os poucos recursos ja descobertos, sem quaisquer ou grandes contrapartidas para o interesse nacional, embora politicamente alguns individuos beneficiarios das primeiras entradas de divisa nessas operações consideram-se nacionais.

Hoje na Guiné não se fala de uma equipa de quadros nacionais especializados em negociações internacionais. Não se fala de especialistas de mercados de fosfato, do petroleo, da bauxite, etc. Ora, um geologo por mais que seja técnico conhecedor da matéria, pode não ser considerado especialista das negociações. O mesmo acontece na gestão dos dossiers de adjudicação dos blocos de petroleo ao longo dos ultimos e na mais recente questão de bauxite, que finalmente foi parar nas mãos de Angola Bauxite. E preciso darmos mais atenção à esse capitulo de cooperação criando competências nacionais. Não se pode sonhar obter quaisquer ganhos quando se negocia com um angolano ou nigeriano nas questões de petroleo, porque eles ja la vive ha anos e conhecem todas as zonas de sombra e de luz que nos desconhecemos. As consultorias que encomendamos no Banco Mundial e outros parceiros, não são suficientes para nos atribuirem maiores ganhos, pois o parecer do consultor internacional fica para a decisão de ministros que por sua vez vão pedir conselhos aos seus técnicos internamente e também aguardar pelas promessas de envelopes para as suas contas pessoais.

Mas a mais temente das realidades é que todos acordos são celebrados da mais discreta forma possivel, cabendo aos ministros tutelares das pastas decidirem sobre quem deve ou não continuar à explorar o recurso que lhe foi adjudicado pelo seu sucessor. Nisso assistimos à expropriação de varias propriedades e empresas de exploração na Guiné-Bissau, o caso mais recente é o da GB Phosphate&Mining com o argumento de que os contratos anteriores não eram crediveis, quando os novos não o representam melhor. Não se assiste na Guiné-Bissau à debates publicos sobre os sectores chaves, e sobre contratos de grande envergadura como no caso de bauxite com Angola, onde as populações das zonas concernentes não são informadas e nem consultadas e o pior é que acabam sendo desalojadas sem garantias de atribuição de novas localidades para a sua instalação e subsistência, pois sabe-se que no meio rural so se vive da agricultura e que a terra é a principal empresa do agricultor.

Mas voltanto para falar das etapas, para um pais que pretende desenvolver-se, é muito perigoso confiar a sua promoção e defesa exclusivamente nas mãos da comunidade internacional seja de forma bilateral como multilateral. Na Guiné-Bissau é o que se verifica infelizmente. Temos muitos economistas dentro e fora do pais, mas internamente ninguém trabalha na area de cooperação economica, que ha muito tempo devia ser uma das prioridades da nossa politica externa no meu ponto de vista, mas não é na realidade. Tudo é confiado aos especialistas de fora, tanto do Banco Mundial, do BAD, da União Europeia, de Portugal, etc., deixando opiniões nacionais fora de quaisquer considerações internas. Analizemos o que nos traz como resultado uma tal realidade.

Na logica, da mesma forma que se definem projectos ou politicas a partir de estudos, analises, reflexões, debates e programações, assim se devia trabalhar nesse capitulo de exploração dos nossos recursos naturais, cuja importância e o valor para o pais ultrapassam uma simples decisão de um Ministro e do seu gabinete, assim como um partido no poder ou na oposição, que ultimamente têm utilizado esse argumento para mobilizar recursos com vista à financiar as suas camapanhas eleitorais.

Internamente não se promovem competências nacionais no dominio de cooperação economica que passa por estudos sectoriais aprofundados e repertoriamente das potencialidades existentes e a sua justa avaliação, pela negociação de acordos, pela promoção de investimentos, pela mobilização de linhas de crédito e de garantias de investimentos para o pais, e enfim pela celebração de parcerias comerciais entre o sector privado nacional e estrangeiro conforme mercados potencialmente rentaveis. Tudo isso não faz parte das agendas politicas e diplomaticas nacionais actualmente, embora haja ainda hoje alguns esforços infimos nesse sentido, mas tudo de forma isolada e sem grandes considerações por parte das autoridades.

Externamente, não se fala da Guiné-Bissau como um pais potencialmente rico com recursos que podem atrair qualquer tipo de investidor, pois a promoção do pais esta dominada por uma imagem negativa de um pais pobre e sem quaisquer oportunidades de negocio e investimento, minado por um clima de instabilidade politica e institucional permanente. Prova disso, é a inexistência de estruturas e ou unidades especializadas ao nivel das nossas representações diplomaticas e dentro de pais. Hoje não se entra na Guiné-Bissau e vê uma unica imagem linda das nossas potencialidades, assim como não se ouve falar de eventos de caracter promocional ou de um gabinete de promoção turistica da Guiné-Bissau no mundo fora. Tudo isso justifica-se pela ausência de uma visão e politica da cooperação economica.

Agora indo para as consequências dessa falta de politica da cooperação economica, digo que conduz o pais ao caos em que nos encontramos hoje. Porque para que uma economia seja dinâmica e viva, é preciso que hajam capitais disponiveis e em circulação permanente. O que não se verifica na Guiné-Bissau, pois não ha instituições financeiras com capacidade de garantir uma circulação regular de capitais. Quando é assim, não podemos assistir ao nascimento e crescimento de um sector empresarial em todos seus componentes, com muitas promessas. Pois os bancos vivem de poupanças e de serviços bancarios essencialmente realizados e consumidos pelos operadores economicos. Mas para que isso possa funcionar é preciso que haja um clima politico, social e institucional favoravel e estavel. O que infelizmente não conseguimos instaurar até aqui na Guiné-Bissau.

Embora seja muito mais facil concluir que os militares são o principal factor dessa questão de instabilidade, mas indo ao fundo do problema, veremos que as principais causas residem essencialmente nas questões de pobreza e sub-desenvolvimento que nos caracterizam. Porque sem capitais não ha investimentos e sem investimentos não ha actividade economica, sem actividade economica não ha emprego, sem emprego não ha consumo e sem consumo não se pode falar de crescimento economico. Logo podemos concluir como essa situação a paz e estabilidade ficam ameaçadas, pois todos actores ficam expostos à morte lenta. Então quando é assim o mais forte tende à recorrer à sua força para poder dominar e garantir o maximo de proveitos para a sua sobrevivência no mais longo prazo possivel.

A partir dessa constatação, assistimos ao nascimento e crescimento da corrupção politica e financeira que conduziram à perda de rigor e de contrôle da administração e do sector publico, dando lugar à impunidade e falta de justiça generalizada, isso quando falamos do Estado e dos seus servidores ; numa onda crescente de violência e de criminalidade caracterizadas por assaltos, traficos, branquiamento de capitais e outros males, no seio da sociedade em geral, pois cada um tem de encontrar a forma de sobreviver ; do recurso às armas para tentar repôr ordens e exigir « justiça social » por parte dos militares que na realidade também reclamam mais garantias para a sua sobrevivência ; enfim, na existência de uma classe empresarial funcinando no sistema D, esperando cada um beneficiar das fragilidades do aparelho administrativo nacional para se isentar de pagamento das suas contribuições e dever patronal para com os trabalhadores, com o argumento de que instabilidade tem ocasionado apenas perdas que não permitem cumprir com o dever. Analizemos donde vem tudo isso e tiremos as nossas conclusões.

Em conclusão, tenho coragem de afirmar que um dos primeiros factores de instabilidade na Guiné-Bissau é a falta de politicas economicas coerentes e viaveis. Pois nenhum governante até aqui teve a paciência de parar para pensar na melhor forma de governar a Guiné-Bissau a partir da Guiné-Bissau no verdadeiro sentido de palavra. Os primeiros discursos politicos de Presidentes da Republica e Primeiros Ministros são sempre orientados para a comunidade internacional, pedindo apoios, mas sempre materiais, pondo a parte técnica e cientifica no ultimo plano. Esquecemos por completo o ditado chinês «  em vez de me oferecer o peixe ensina-me a pescar », que para mim é a unica forma de desenvolvermos a nossa economia, criando empregos e valor acrescentado, condições sine qua non para uma estabilidade social, politica e economica duradoura. Pois que tem algo para fazer não passa tempo à falar mal dos outros e nem vive de inveja e de odio, mas sim passa o tempo à trabalhar e à inventar. Isso é valido para todas camadas sociais na Guiné-Bissau. E preciso que sejamos mais honestos para connosco enquanto cidadãos guineenses, nenhum parceiro internacional fará a promoção da Guiné-Bissau melhor do que os proprios guineenses, não é tarefa que exige apenas tecnicidade embora seja necessaria, mas sim amor à patria, coordenação de sinergias e talento e vontade de transmitir uma imagem positiva que permite pôr os nossos parceiros em confiança.

Que a Guiné-Bissau seja responsavel pela sua diplomacia e que integre a vertente de promoção e cooperação economica nas suas prioridades de cooperação internacional. Mas tudo deve ser assente nas competências nacionais.

BEM HAJA

Copyright

Lourenço da Silva
Consultor Internacional
Especialista em Management e Gestão de Empresa
Técnico Superior de Turismo






Sem comentários:

Enviar um comentário